28 novembro 2012
Silêncio de 19,2 Quilates
O provérbio chinês diz: “A palavra é prata, o silêncio é ouro”.
Agora eu pergunto: Se o silêncio é ouro, quanto vale um grama de silêncio?
Quero ligar ao António Sala. Diz que é o agente da Ouro Cash em Portugal.
O meu silêncio é capaz de valer bom dinheiro.
Mas tenho 2 problemas a resolver:
Primeiro, não sei converter minutos de silêncio em gramas de ouro, o que é de facto aborrecido, pois eles vão-me tentar “passar a perna”.
Segundo, não lhe posso ligar a dar uma palavrinha.
Porque se “a palavra é prata”, eles não me vão pagar nada. Diz que só negoceiam ouro.
A única coisa que posso fazer é ligar-lhe de facto, e ficar calado, contabilizando assim minutos consecutivos de silêncio que serão convertidos, segundo alguma fórmula científica, em ouro, e posteriormente em “cash” que me vão certamente enviar.
Vou-lhes vender todo o silêncio que tenho! Eh eh! Burros!
À parte da questão da fórmula científica para conversão direta do tempo em massa ou em peso, que me dará ao certo a quantidade de silêncio/ouro que terei para vender, raciocínio e formulação a que vou voltar mais à frente, terei outra questão a resolver:
Preparar-me corretamente para ter noção precisa do valor do meu silêncio.
De outra forma estarei a colocar-me nas mãos de um qualquer negociante de ouro, que como habitual vai atirar o valor, mais favorável possível ao seu lado, que lhe vier à cabeça naquele momento.
Do género:
- “Ah! Ó freguês, este silêncio é de uma pureza mínima, sendo que a razão entre a sua massa presente e a massa total, multiplicada por 24, não representa mais do que 67% de silêncio/ouro. Daí está que, o seu silêncio é apenas de 16 quilates.”
Ao que eu vou responder:
- “Não, não, Sr. António Sala, o meu silêncio/ouro é Português, quer isto dizer que possui 80% de silêncio puro, correspondendo a 19,2 quilates, sendo que os restantes 20% são ligas adicionadas (cobre e prata) para garantir maior durabilidade e brilho ao meu silêncio, resultando um silêncio com esta coloração amarela.”
Ao que o António Sala vai contrapor:
- “Claro, claro, Sr. Freguês! Mas vejamos então: Diz que 20% do seu silêncio é constituído por cobre e prata. Se a “prata é a palavra”, e se diz que o seu silêncio tem palavra, não estamos na realidade na presença de um silêncio puro, como refere.”
E eu digo:
- “Raios! Agora é que me tramaste!”
E ele diz, sorrindo cinicamente com o bigode:
- “Pois foi.”
E eu pergunto:
- “Então e o cobre, não vale nada?”
Ele responde:
- “Talvez num sucateiro.”
Eu digo:
- “Palavra?”
Ele responde:
- “Não. O cobre.”
Eu grito:
- “RAIOS!”
Ele mantém o bigode cínico.
Eu pergunto em desespero:
- “Então e ninguém pode fazer mais nada?”
Ele diz:
- “Não sei. Talvez os chineses. A regra é deles.”
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