17 maio 2013

O Bem e o Mal

Nunca simpatizei com a típica personagem de telenovela. Refiro-me a figuras “vedadas” à formatação que lhes é atribuída por uma história e um guião. Não gosto do típico vilão/vilã, que engendra todo o tipo de planos para atingir os seus objetivos, não olhando a meios e não se importando uma única vez com todo o mal que provoca aos demais. Desta personagem espera-se o mal e só o mal. Gosto ainda menos da personagem boazinha que sofre ao longo de todos os 250 mil episódios, até ao último, no qual consegue sempre desenvencilhar-se de todos os males à sua volta, ver feita justiça e viver feliz para sempre. Desta personagem espera-se o bem e só o bem. Não gosto e normalmente não acredito nem um bocadinho nesta personagem. Acredito muito mais nas personagens e nas pessoas ambíguas. Nas quais podemos ver o melhor e o pior e sentir que os seus comportamentos não precisam de ser justificados com mais nada senão com as próprias imperfeições da natureza humana. Nem precisando de ir a casos extremos de bipolaridades ou distúrbios psiquiátricos. Pessoas normais, que acertam e erram. Fazem o bem e fazem o mal. Porque são humanas. Quem me conhece sabe que tenho uma “paranoia” fora do normal pela série de TV “Dexter”. Que sofro inclusivamente de síndrome de abstinência quando passo muito tempo sem ver algum episódio. Irritabilidade e ansiedade são os primeiros sintomas e os mais normais. Não! Não me passa pela cabeça vir a tornar-me um serial killer. Por muita vontade que tenha em certos momentos de me livrar de certos cretinos mimados (com o complexo de superioridade intelectual, comportamental e moral, provenientes de um genoma hitleriano nariz de cão de pelo raso e pernas curtas) que tenho infelizmente de aturar, e mesmo tendo acesso rápido a bobines de rolo de plástico e a várias ferramentas de corte, não pretendo ir por um dexter whanabe way, ou sequer pretender ser eu a dar lições que a vida e o tempo se irão encarregar de dar (conceitos básicos e simples como humildade ou saber reconhecer quando se está errado e coisas do género, vá lá… nada de trágico…). Voltando ao Dexter, é de facto o único programa de TV que me põe num estado total de catatonia, sugando-me do mundo real para um universo inexistente na cidade Miami, que faz com que as pessoas falem para mim e eu não oiça (nem futebol me faz isto), ou não me importe de acordar às 3h da manhã com um dos meus filhos a chorar (geralmente a Sofia) e ter de andar com eles ao colo aquela hora, e não me importo porque está a dar um qualquer episódio repetido de uma qualquer temporada do Dex na FOX. Eu penso: “continua a acordar a essa hora Sofia que o Pai não se importa e ai de ti que acordes antes ou depois!!!”. O que tanto me cativa nesta personagem, é que ao contrário das personagens de telenovela, não é uma figura estanque. Um especialista forense que trabalha para a polícia, serial killer nos tempos livres matando apenas bad guys. How cool is that? Mr. nice guy para toda a comunidade sob um disfarce permanente, serial killer nos tempos livres. Pode parecer básico e até patético. Mas não é. A série explora (e muito bem) uma temática filosófica antiga. Até que ponto o bem e o mal conseguem coexistir dentro de uma só pessoa. A relação entre os nossos anjos e os nossos demónios. É um tema que me atrai. Talvez porque me revejo. Não na pele de um assassino pois está claro, mas na pele de alguém que entende que existe o bem e o mal dentro de cada um, existem qualidades e defeitos, existe a virtude de dar mas também a necessidade de receber, existem dias bons e dias maus, existem problemas que afetam as pessoas e turvam o pensamento mas também existem muitas coisas boas que nos trazem de volta a um estado racional e de alegria. Alguém disse qualquer coisa deste género: Existe um lobo mau dentro de cada um de nós. Não vale a pena negar. Quem o nega, só se está a enganar e a propiciar os conflitos mentais em si próprio. Mas também não vale a pena procurar muito. Ele aparece, mais cedo ou mais tarde, nos momentos certos (ou errados). O importante é saber e reconhecer que ele está lá, saber lidar com ele da melhor forma e ir deixando o “bichinho” comer qualquer coisa de vez em quando. Será?

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